domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sporting 3 - Everton 0: Sem Espinhas!



Liga Europa - 16 Avos - 2ª Mão

O que aconteceu na passada quinta feira em Alvalade foi para a Nação Leonina o lavar a alma de tanta tristeza com que este mês de Fevereiro nos brindou. Foi, em toda a sua extensão, a razão pela qual amamos o nosso clube. Mas foi, também, mais uma peça intrigante no puzzle de uma época verdadeiramente confusa.

Eu sei que enaltecer a vitória, a passagem à eliminatória seguinte e sobretudo a belíssima exibição foi, depois de quinta feira, um reerguer do orgulho Leonino, que com tão baixa auto estima tem vivido os dias negros de um Inverno futebolístico que já vai longo demais. Mas importa reflectir sobre o acontecer de forma fria e concisa, pois, uma jogatana daquelas não pode ficar só à mercê de elogios e eloquentes discursos que tentam beatificar agora um plantel que... depois dos 90 minutos contra os ingleses continua a ser... o mesmo.

Antes de partir para a análise do jogo e do que ele representou deixem-me sublinhar que para além das vitórias sobre os nossos eternos rivais, são as vitórias sobre as equipas inglesas que me fazem vibrar mais. Ainda hoje quando revejo por exemplo o célebre jogo de Portugal contra a Inglaterra no Euro 2000 ou no Euro 2004 ou até mesmo no Mundial de 2006, invade-me a alma uma torrentes de emoções difíceis de descrever. E claro na célebre caminhada do Sporting para a final da UEFA onde derrubámos um Newcastle e um Birmigham... enfim, outras noites.

Quanto à análise do jogo, começo por registar que uma vez mais Carvalhal entra num jogo com cautelas defensivas, apostando no esquema que é mais do seu agrado - 4x2x3x1. Grimmi, Tonel, Carriço e Abel na linha defensiva; Pedro Mendes e Miguel Veloso num duplo trinco, Ismailov e Moutinho na frente dos trincos, preenchendo os corredores laterais do meio campo e Moutinho em trabalho de apoio claro a Liedson, trocando ora com Yannick, ora com Ismailov o dentro de meio campo ofensivo do Sporting.

Compreendo esta linha, onde Carvalhal quis mais solidez defensiva principalmente na zona de meia distancia onde os ingleses normalmente costumam "disparar" em direcção à baliza. Mas, depressa percebemos que este esquema táctico não fazia muito sentido. Por 2 razões: primeiro porque o Everton entra em campo a jogar com o resultado obtido em Inglaterra e disposto a esperar para ver. Depois porque Pedro Mendes foi dando e sobrando para as encomendas. O primeiro remate à baliza do Sporting efectuado pela equipa inglesa só aconteceu muito depois do minuto 50. Ou seja, Rui Patrício na primeira parte foi um mero espectador.

Miguel Veloso começou a subir no terreno libertando Ismailov e Yannick das suas obrigações defensivas quando a equipa não tinha a bola em seu poder e facilmente se percebeu que o Sporting passou rapidamente para um sistema 4x1x3x2 com Yannick com ordem para transportar jogo e provocar desiquilibrios defensivos ao Everton. O livre apontado por João Moutinho que levou a bola a embater na trave da baliza inglesa na primeira parte foi a ocasião mais clara de golo, embora a construção de oportunidades fosse constante em toda a primeira parte onde só deu... Sporting. O Everto foi completamente dominado por um Sporting que, para minha grande surpresa, teve pulmão, respirou concentração, praticamente não falhou um passe e pressionou bastante alto, não dando espaço à equipa inglesa quando não estava na posse da bola. Ao contrário, os ingleses, muito ao seus estilo deram todo o espaço do mundo ao Sporting que, numa forma normal, nunca teria perdido o jogo em Liverpool.

Na 2ª parte, tudo correu de feição. 3 golos, sem espinhas. Muita determinação. Muita garra. Concentração e processos simples e perfeitos de ataque e de recuperação de bola. David Moyes ainda deve estar a perguntar-se agora como foi possível e que equipa andaram os seus observadores a seguir nos jogos destinados à "espionagem" táctica.

Carvalhal, desta vez leu bem o jogo em 2 substituições. Trocou Grimmi por Saleiro, remetendo Miguel Veloso para lateral esquerdo com ordem para subir no terreno - o que originou o 1º golo da noite numa triangulação entre Yannick, Saleiro e finalização de Veloso que começo a jogada. Depois tira Ismailov para a entrada de Matias com o jogo já em 2-0 e... borrou a pintura na substituição de Liedson por Polga. Como é que é possível??? Estávamos no minuto 90. Faltam 3 minutos para o jogo terminar e tiramos Liedson para colocar um central. E se os ingleses, às 3 tabelas, marcassem um golo nesses 3 minutos? E se fossemos para prolongamento??? Jogávamos sem Liedson? Só com Saleiro e Yannick, já algo desgastado, na frente? Enfim, felizmente... depois dessa substituição, após um momento de grande confusão na nossa zona defensiva, fechámos o jogo com chave de ouro, onde Matias finaliza com o 3º golo uma jogada de puro contra ataque.

Onde estava estava este Sporting?

Alguém me sabe responder?

Depois desta jogatana, alguém me explica a razão pela qual se justifica a miséria de exibições que tem pautado a nossa época? Porque razão de um momento para o outro, uma orquestra ultra desafinada, de repente aparece afinadíssima? Os jogadores são os mesmos, o treinador é o mesmo, a bola é a mesma... o que significou afinal este jogo? Como se explica agora as péssimas exibições e as humilhações em catadupla que temos sofrido?

Ou tudo não passou de uma "one night stand"? Inspirada por meia dúzia de olheiros de alguns dos clubes mais importantes europeus que seguiam nas bancadas as incidências do jogo.

Numa época normal, este teria sido um jogo normal, um resultado normal. Mas, no meio da anormalidade que tem marcado esta época, o facto deste jogo ter decorrido daquela maneira levanta ainda mais questões sobre o que realmente se tem passado no futebol profissional do Sporting. Estou intrigado e quero seguir atentamente qual o verdadeiro resultado do impacto exibicional e motivacional pela eliminatória ganha a uma equipa inglesa que em 2 semanas aviou o Chelsea e o Manchester United... o que só reforça a minha certeza: o futebol não tem lógica.

Quero destacar pela positiva antes de tudo mais... pela qualidade do relvado. Finalmente!!! Finalmente há tapete ou coisa que se pareça com um tapete para a prática do futebol. É que parece que não, mas ajuda... e muito. Será possível melhorar o - agora sim - relvado por forma a que no início da próxima época esteja na condição perfeita?

Depois, destacar a enorme exibição de Pedro Mendes. Fiquei rendido ao futebol deste rapaz que - agora também sim - me faz render quanto aos motivos pelos quais se apostou na sua contratação.Pedro Mendes, 31 anos, é um belíssimo jogador que me faz recordar e muito Paulo Sousa. Falta-lhe o passe de longa distância, que Paulo Sousa fazia com mestria, mas é um jogador que traz dimensão cerebral ao meio campo do Sporting. A seguir com atenção nas próximas jornadas e... desejar que não hajam lesões para que inicie a próxima época na máxima força - se bem que estará com certeza ao serviço da selecção no Mundial de África. O seu golo é a cereja no topo do bolo.

Positiva também a exibição de Yannick que mexeu com a velocidade e transporte de bola, algo que tem faltado ao Sporting nesta época. Espero que o rapaz desperte mesmo para exibições claramente positivas de forma a justificar a sua manutenção no plantel - dado que ainda não dou como adquirido.

Ismailov, Moutinho e Miguel Veloso fecham os meus destaques. Jogaram ao seu nível médio e isso chega para fazer a diferença. Veloso marca 2 golos nesta eliminatória aos ingleses e aguça ainda mais o interesse de várias equipas britânicas... mas ao que me dizem o seu destino está traçado.

Pela negativa, sublinho uma vez mais a estúpida substituição de Liedson num momento em que poderia ter comprometido as nossas chances caso os ingleses marcassem - como é seu hábito - no último minuto e nos obrigassem a ir a prolongamento. De negativo também - mas ao mesmo tempo justificável . a fraca assistência. 17 mil pessoas em Alvalade - das quais 3 mil eram inglesas - é muito pouco para um jogo europeu. Dos resumos que vi da Liga Europa, ver o Alvalade XXI praticamente vazio ao pé das enchentes registadas em quase todos os outros estádios é triste... mas desta vez a responsabilidade está claramente do lado dos jogadores. Fizessem eles um jogo idêntico com FC Porto para a Taça e contra o SL Benfica para a meia final da Taça da Liga e o estádio estaria com certeza perto de estar cheio. Espero que eles compreendam que são eles que nos têm de convencer a ir ao estádio, não somos nós com a ida ao estádio que os temos de convencer a jogarem daquela maneira.

A finalizar, uma frase infeliz de Tonel já à saída do estádio, onde refere que o Sporting e a equipa têm sido "achincalhados". Meu amigo Tonel... têm sido por vossa única e exclusiva responsabilidade. Vocês têm de jogar sempre é de forma a não serem sequer beliscados quanto mais "achincalhados".

Já falei aqui também do despropósito que foi o anuncio efectuado sobre a contratação de Costinha antes da realização do jogo. Caso a coisa tivesse corrido mal... era uma entrada má. Deveria sim, ter sido anunciado após o jogo. Caso o resultado fosse o contrário, nada o "ligaria" a esse ciclo - assim como nada o liga ao sucesso obtido - de forma a proteger. Mas pronto, até isso correu bem. Mas da mesma forma que Carvalhal se precipitou na substituição de Liedson, Bettencourt precipitou-se no anuncio de Costinha. Para variar desta vez tudo lhes correu bem... mas fica a nota de algum "amadorismo a ambos".

A terminar... soprou-me ao ouvido que já há um treinador a preparar a próxima época... e a confirmar-se o rumor será uma grande notícia e com dedo do Costinha. Para já fico-me como São Tomé... ver para crer!!!

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