terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A fuga do cordeiro com pele de Leão. (parte II)


Inevitável. Elementar. Lastimável.

Sejamos honestos: que futuro pode ter um clube, com mais de 100 anos de história, se nos últimos 16 anos, todos os presidentes bateram em retirada? Santana Lopes, José Roquette, Dias da Cunha, Soares Franco e agora José Eduardo Bettencourt. Alguém me explica como pode um clube almejar ser um dos maiores da Europa se o cargo de maior importância no clube, é sistematicamente abandonado pelos seus presidentes, um após outro, sem respeito pelos deveres que são impostos num mandato e que deveriam ser vividos na máxima plenitude do orgulho, da dedicação, da paixão e do esforço por quem assume o título de Presidente do Sporting Clube de Portugal?

Não foi nem 1 nem 2... foram 5, as figuras do universo leonino que bateram em retirada nos últimos 16 anos, implicando aqui, uma linhagem "política" iniciada pelo projecto Roquette, que... uma década e meia depois nos trouxe até aqui.

Estamos mais fracos, mais pobres e menos competentes. Os prós e contras de um projecto começam agora a dar os resultados. O balanço vai ser por certo alvo de muita conversa nas próximas semanas.

Mas, centrando agora a questão na demissão de José Eduardo Bettencourt, tenho que assumir que não estava à espera neste momento que passa-se pela cabeça do ex-presidente não cumprir o seu mandato. No entanto mais a frio compreendo a inevitabilidade, a sua componente elementar e o seu lastimável significado.

Inevitável.

José Eduardo Bettencourt é eleito por 90% dos votos numa eleição que arrastou uma maioria legítima para uma esperança renovada. Parecia-nos ser finalmente o Leão certo no lugar certo. Mas, como manda a tradição, pau que nasce torto jamais se endireita. Um candidato sem projecto dificilmente podia chegar longe. Acreditei, no discurso sereno, diferente e credível de alguém que tem no seu ADN leonino o pó das bancadas de Alvalade. Adicionando o facto de ser um gestor, com resultados apresentados e que não precisava do cargo de presidente para auto-promoção. Mas, por mais dissimulada que estivesse no barulho das luzes, a margem de erro estava lá e era garantidamente grande demais para não ser notada. Bettencourt perde a batalha Paulo Bento Vs. bancada Leonina e perde nesse mesmo momento poder. Daí até à sua demissão seria uma questão de tempo. Tenho para mim que a partir da saída de Paulo Bento, Bettencourt "perdeu" o interesse na parte desportiva, como se pode comprovar pelas opções tomadas a partir daí., dedicando-se a outra agenda...

Elementar.

Bettencourt foi nitidamente empurrado para a presidência do Sporting por um sector ao qual se pode chamar "os restos do projecto Roquette". E foi empurrado com 2 agendas. Uma no plano desportivo que morreu no dia em que Paulo Bento se demite. Tudo o resto que se seguiu no plano desportivo afecto ao futebol profissional foi mero exercício de manutenção sem claudicar a outra agenda... a da reestruturação financeira. E aqui, é de sublinhar, Bettencourt atingiu praticamente o pleno dos seus objectivos. Discretamente, conseguiu arrumar a casa nesse sentido. Todo o processo financeiro de renegociação com a banca, a operação harmónio, a capitalização de tesouraria e um arrumar do passivo global do clube correu longe das pressões e holofotes da comunicação social. Enquanto esta se dedicava aos sucessivos episódios desastrosos da estrutura ligada ao futebol profissional, Bettencourt e todos aqueles que exigiam a reestruturação financeira manobraram as operações com a banca. Dizem-me que esta operação permitirá ao Sporting encarar melhor o seu futuro do ponto de vista financeiro. Mas não me dizem quanto custará ao clube os resultados a médio longo prazo destas operações. O que sei, é que a banca está neste momento mais segura e tranquila de que, neste negócio, não saíram a perder e que existe um novo ciclo, onde estão - os bancos - mais "garantidos" com a certeza de que as bolas ao poste e as más arbitragens não vão interferir mais com o plano de abate de passivo. Aqui, Bettencourt esteve implacável. Resolveu o problema aos bancos. Resolveu o problema dos vários passivos e arrumou verticalmente os balanços e contas do clube. Quem vier a seguir terá apenas de seguir a cartilha. Finalizada esta operação e bem cumprida a missão para que fora destacado, seria elementar a saída de Bettencourt, de bem com a banca - seu habitat profissional natural - para onde sairá, com certeza numa posição ainda mais reforçada do que aquela que deixou quando abraçou a missão. Acrescento aqui que, Bettencourt, foi anda bem sucedido na negociação da indemnização da CM Lisboa e a revisão do plano de pormenor que nos permitirá no futuro o encaixe de mais alguns milhões e a construção do novo Pav. de Alvalade junto ao Estádio.

Lastimável.

O timming do anuncio da sua demissão. Após uma derrota com um Paços de Ferreira? Por causa dos apupos de meia centena de "zombies" que acham que o Sporting ainda vive nos dourados anos 50 e 60. Não vive! E temos que o aceitar.

Depois de Dias da Cunha se demitir por causa de outra batalha perdida - Peseiro Vs. Bancada de Alvalade - seria impensável um presidente do Sporting se demitir após uma derrota com um clube... que luta todos os anos para não descer. Ainda para mais no seguimento de uma arbitragem (mais uma) deplorável de um tal de Catita! Um Presidente do Sporting não pode sair assim. É deixar o clube à mercê de uma humilhação pública e o visível enfraquecimento perante os seus principais adversários. Nunca perdoarei a Bettencourt esta fuga. O que eu pensava ser um Leão, afinal, era um cordeiro disfarçado de Leão. Não coloco em causa o sportinguismo de Bettencourt, mas, não deverá ousar jamais em pensar sequer ocupar um lugar de responsabilidade no clube. Nem como Steward.

Esta demissão terá de ter um significado claro para a nação Leonina: o fim de 1 ciclo. O Fim do "projecto Roquette". Não à Cooptação. Eleições Imediatas. Sportinguistas Integros e Determinados a fazer renascer a paixão nas bancadas precisam-se. Já!!! Mas cuidado... há mais cordeiros disfarçados de Leão por aí....

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