segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Orfanato.


O futebol profissional do Sporting Clube de Portugal está transformado num profundo e deprimente orfanato. Esta é a realidade em que caiu o clube na última década e meia, disfarçado pela conquista de 2 títulos nacionais, alguns troféus, uma final da Taça UEFA, um estádio novo e um centro de estágio também novo. Mas em abono da verdade... espremidos 15 anos de um novo ciclo de Sporting - iniciado com o legado de José Roquette e Pedro Santana Lopes - chegámos à conclusão que muito pouco se fez - não de forma literal - para transformar o futebol do Sporting numa potência futebolística de acordo com os seus pergaminhos.

Ao contrário, aumentámos um passivo de forma amadora, transformámos o Sporting num grupo de empresas, vendemos património, ficámos dependentes dos amuos e inseguranças da banca e... queimámos, oportunidades atrás de oportunidades, de nas épocas menos boas dos nossos adversários, tomarmos a liderança absoluta das competições nacionais profissionais, dando poder interno a quem pouco ou nada entende de futebol, ou a quem liderou o Sporting da forma politicamente correcta - o que também não nos fez ganhar mais por isso - mas pouco apaixonada e muito longe do balneário.

Destes 15 anos sobra muito pouco. Muito pouco em prol do crescimento futebolístico, muito pouco em termos estratégicos, muito pouco no engrandecimento da notoriedade e respeito pelos jogadores e história do futebol do Sporting.

E em que ponto nos encontramos hoje? Exactamente! Estamos órfãos... De quê? De tudo. De orgulho. De paixão. De respeito. De notoriedade. De riqueza. De títulos. De projecto, estratégias e recursos. De raça, querer e força. De competência. De verdade. De qualidade em todos os sectores. Estamos órfãos... de liderança e união. Estamos órfãos tacticamente. Estamos órfãos de união e vontade de unir. De objectivos e soluções. De alegrias. De lotações esgotadas. De noites memoráveis. Estamos órfãos de um losângulo, de um rectangulo e de um triângulo... e por isso digo que actualmente somos um profundo e deprimente orfanato.

E temos um plantel órfão de ideias, ambição e garra. Paulo Bento, representou enquanto pode o papel de padrasto - e de fita adesiva - de um clube que sempre esteve mais próximo da actual realidade do que a que ele conseguiu disfarçar.

Chegámos a um nível onde, do meu ponto de vista, podemos ser despromovidos de orfanato a asilo e daí a hospício é um salto (embora em alguns sectores o ambiente já roça o de puro manicómio).

Por estes dias chove desalmadamente. Troveja continuamente... imagino por Alvalade um silêncio sepulcral pelos corredores, onde pairam algumas almas penadas e zombies sem consciência e sem rumo. Aqui e ali, as ratazanas que por lá restam, catando pelos cantos, restos de festins ocasionais perdidos no tempo. Ou seja... o típico ambiente de uma instituição órfã de si mesma.

Haverá no horizonte algum rasgo de esperança? Alguém que ponha cobro a este trágico destino? Que termine de vez com a política zero no nosso futebol? Que recupere e coloque o Sporting de onde ele nunca deveria ter saído? Dizem-me que vou ter a resposta dentro de poucas semanas. Será a que eu quero ouvir? Aguardo... mas a minha baixa estima actual não me dá grande entusiasmo.

Na próxima quinta feira lá estarei. Órfão de fé...

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