quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Grande Enigma Leonino


Vamos aos factos:

Bettencourt é eleito por 90% dos votos no final da passada Primavera. No seu primeiro acto de gestão, renova contrato com Paulo Bento. Convencendo o treinador a renovar, criou de forma ingénua uma "armadilha" ao mesmo. Apesar do optimismo leonino, internamente havia noção de que a época não ia ser fácil. Reforços, dignos desse nome, apenas um - Matias Fernandez!

Sem resultados e principalmente sem exibições, a massa adepta cai em cima de Paulo Bento. A ruptura é inevitável. Contra tudo o que sentia, Bettencourt vê-se obrigado a aceitar o pedido de demissão de Paulo Bento. Tem início uma onda de demissões, que começa no Director Desportivo Pedro Barbosa, alastra ao Vice Miguel Ribeiro Telles e claro, restante equipa técnica. Em menos de 5 meses, o recem eleito José Eduardo Bettencourt vê desmoronar uma estrutura que desejava ver em exercício pelo menos até ao fim desta época, aproveitando o ano que tinha pela frente para reformar o organograma da SAD Leonina e dotar - julgo eu - de melhores recursos financeiros e humanos a mesma para que pudesse enfrentar os 3 anos restantes de mandato com máxima exigência e sobre tudo com conquistas.

Foi apanhado por um Tsunami que teve epicentro... do outro lado da 2ª circular. O arranque alucinante do nosso rival, provocou ondas de choque na massa adepta, nos jogadores, na equipa técnica e quem sabe... nas próprias "fundações do estádio".

Foi um presidente muito pouco politicamente correcto, o que presenciámos no pós ciclo de demissões. Ao contrário do que estávamos habituados, Bettencourt foi mais adepto e sócio, do que presidente. Falou mais com o coração do que com a cabeça... e na minha opinião, perdeu a mão na Instituição por alguns momentos. Bettencourt, eleito em Maio, para mim ainda não tinha vestido efectivamente o fato presidencial. No "conforto" da estrutura que vinha de trás, preocupou-se apenas em reanimar as tropas, aumentar o número de sócios e preparar a votação em assembleia do famigerado e desejado plano de reestruturação da SAD e natural re-escalonamento do plano de amortização da dívida - principal responsável por termos chegado até aqui.

Com a passagem da "onda tsunami", Bettencourt, rapidamente teve de vestir o fato presidencial e encarar o problema imediato. "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos" foi a frase que marcou o novo ciclo de Bettencourt.

O que estava em cima da mesa era: Novo Treinador, Nova Equipa Técnica, Novo Director Desportivo, Colmatar na SAD a saída de Ribeiro Telles. Mas, quando esperávamos uma atitude séria, ponderada e preocupada perante o problema que tínhamos pela frente, assistimos à abertura do circo de Natal da imprensa. Nomes, nomes... e mais nomes... testando, configurando, sentindo o pulso e até sondando. Pergunto: foi tudo invenção da imprensa, folclore habitual ou houve fugas de informação internas?

A partir do momento em que a imprensa tomou conta - aparentemente - da agenda de nomes para ocupar as vagas na estrutura profissional do futebol do Sporting, estava dado o mote para o Grande Enigma Leonino.

Entre comunicados à CMVM, que deixaram pontas para várias interpretações, declarações presidenciais em sentido contrário ao referido comunicado, o folhetim Villas Boas - que desejo que esteja enterrado e bem enterrado! - fazia o delírio da imprensa. Entretanto começam as nomeações. Todas elas soluções internas. Sá Pinto, para o lugar de Director de Futebol. Salema Garção!!! Team Manager!!! Nobre Guedes para SAD... contratações externas, nem uma. Porquê? Esta é a pergunta para a qual vou aguardar uma resposta por parte do Presidente.

Bettencourt chama a si, grande parte das responsabilidades sobre os destinos do Futebol Profissional do Sporting. Até aqui, uma novidade no historial recente dos presidentes do Sporting. Mas, para além disso, Bettencourt ignora no momento todos os restantes órgãos consultivos do Sporting, como por exemplo o Conselho Leonino. Porque não foi consultado o Conselho de estado Leonino?

Resolver o problema imediato no Sporting com soluções internas não tranquiliza a massa associativa. A não ser que o Presidente precise de mais tempo para organizar uma profunda remodelação em todo o organograma da SAD Leonina e que ao mesmo tempo esteja a aguardar pela execução do plano de reestruturação do grupo Sporting agendado para Março. É de esperar, que nessa altura, sejam explicadas estas actuais nomeações - que para mim só podem ser provisórias - e apresente uma solução mais séria e mais consistente com os desígnios futuros do Universo futebolístico do Sporting.

Convenhamos, Sá Pinto - a única e honrosa nomeação interna desta fase - está presente no actual quadro com o objectivo claro de servir de pára choques do presidente. Todas as restantes nomeações, são apenas e só, soluções de recurso imediato.

O Sporting continua sem investir em si próprio. Porquê? Outra resposta que terá de ser dada pelos responsáveis ao longo desta época. O que está por trás de tanta contenção de custos?

E chegamos ao nomeado treinador. Carlos Carvalhal, contratado em verdadeiro segredo, apanhando todos de surpresa, surpreendendo ainda mais pela manifesta falta de vontade em colocar nesta escolha um ênfase acentuadamente afirmativo. Uma não apresentação - clássica conferência de imprensa com Presidente e Director Desportivo ao lado da nova escolha - é sim uma novidade. É lógico que nenhum de nós quereria um circo semelhante ao criado pelos nossos rivais aquando da contratação de Camacho pós Fernando Santos - com romarias, bandeiras desfraldadas, centro de estágio lotado para ver os treinos - ou até a de Quique Flores que na nova era Rui Costa, foi recebido como se de Deus tratasse. Nada disso. Mas, intriga pensar na razão que levou a Bettencourt a decidir que Carlos Carvalhal não seria apresentado na forma clássica. Intriga saber porque razão foi anunciado um contrato de apenas... 6 meses (com mais um de opção). Intriga saber, o que pensa Carvalhal disto tudo. Está confortável? Foi assumido internamente por todos que seriam estas as regras? Não se querem expor mais às perguntas rídiculas dos jornalistas do género - Carvalhal também vai ser Forever?

A serenidade de Carlos Carvalhal nestes 3 primeiros dias à frente do futebol do Sporting dá-me algum conforto. O Carlos não é parvo. Sabe o que vale e o que pode fazer com os meios que tem. Vejamos as coisas por outro prisma. Habituado a clubes a cair aos pedaços está ele. Ora entrar no Sporting desta maneira, nunca será pior do que entrar em clubes cuja a missão de os manter a funcionar mensalmente já é praticamente impossível. Ora, com os actuais meios que tem ao seu dispor - que no nosso universo são parcos mas que para ele são fantásticos - Carvalhal não terá pressão nenhuma em cima dos seus ombros e irá concentrar esforços em recuperar psicologicamente, fisicamente e no fim futebolisticamente um plantel que tem, apesar de todas as críticas, o seu potencial inexplorado.

Mas, mesmo com a contratação de Carvalhal, a composição da equipa técnica é surpreendente. Carvalhal assume a preparação física - será boa opção? - trouxe consigo apenas 2 homens de confiança. A restante equipa técnica é composta por pessoas da casa. Lima - o treinador dos júniores de Alvalade - sobe a nº 2 desta nova equipa técnica e... a coisa segue até à nomeação surpreendente de Vítor Silvestre para treinador de Guarda Redes. Silvestre que tem apenas 26 anos! Poderá ser provisório, aceito isso. Mas se o é, têm o Nelson - actualmente na baliza do Belenenses - para ocupar a vaga. Mexam-se! Se não é provisório, assumam a escolha como uma aposta de futuro, mas que seja já e com todo as as letras.

Este Sporting de meias palavras, ou se quiserem nesta semana, de nenhumas palavras, é que não passa de um enorme enigma. Numa altura em que é preciso juntar todas as vontades, o silêncio deixa muitas questões em aberto. O que pode ser prejudicial no curto prazo.

Bettencourt, agora efectivamente presidente, toma as decisões que entende serem as ideais no momento. A razão das escolhas ficará para mais tarde. Não é este o plano de quem quis derrubar Paulo Bento e tudo o que ele significava estava à espera de ver concretizado, mas, à mínima falha - o que até pode acontecer no jogo da próxima jornada - pode deitar por terra as intenções do presidente com nova onda de contestação dos "Batassunas" de Alvalade

Por isso, acho que o nosso Sporting está transformado num grande enigma. Daqui para a frente, tudo o que for dito e feito, ou ajudará a montar o puzzle ou criará ainda mais fraccionamentos no Universo Leonino.

Espero que Bettencourt tenha consciência de que, com o caminho escolhido, está a caminhar sobre gelo muito fino. O que é injusto para Carvalhal, mas, é a vida. Aceitou o convite, só tem que conviver com a realidade que o Presidente lhe apresentou. Mas, esta época, vai determinar com certeza 2 cenários: a saída de Bettencourt no final da época se todos os planos falharem - só assim compreendo o 6 meses de Carvalhal e as nomeações estranhas efectuadas, abrindo a porta a quem vier a seguir determinar uma nova estrutura - ou o arranque para um mandato efectivamente executado por alguém que quer o melhor para o Sporting custe o que custar. Um mandato mais presidencialista e clubista do que qualquer um outro que passou pelo Sporting desde Sousa Cintra. Serão 6 meses em avaliação permanente. Só depois teremos este grande enigma resolvido. Para bem do Sporting, só desejo um cenário - o das vitórias em todos os jogos que temos pela frente esta época.

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